sexta-feira, 6 de abril de 2012

INTRODUÇÃO À CULTURA AFRICANA COM O FILME "KIRIKÚ E A FEITICEIRA"

Introdução
Kirikú é um menininho nascido na África Ocidental. Tão pequeno, ele não chega aos joelhos de um adulto. O desafio que impõe seu destino, no entanto, é imenso: enfrentar uma poderosa e malvada feiticeira, que secou a fonte de água da aldeia, engoliu todos os homens que foram enfrentá-la e ainda roubou todo o ouro ali guardado. Para recuperá-lo, Kirikú enfrenta muitos perigos e se aventura por lugares onde somente pessoas pequeninas poderiam entrar. “O filme trata a criança de um jeito inteligente, oferecendo a ela acesso a uma cultura diferente”, afirma o professor Cláudio Bazzoni, assessor da prefeitura de São Paulo. 

Objetivo 
Ampliar o repertório narrativo ao conhecer contos africanos. 

Conteúdo 
Introdução aos contos africanos. 

Trechos selecionados 
O filme pode ser exibido para a garotada na íntegra, pois é a aventura de Kirikú em todo o enredo que dá sentido à atividade. 

Atividade 
Na aula seguinte à exibição do filme, comece o trabalho lendo para a turma contos populares africanos, como os que compõem o livro A Gênese Africana: Contos, Mitos e Lendas da África (Leo Frobenius e Douglas C. Fox, 250 págs., Ed. Landy, 45 reais, tel. 11/ 3361-5380). Em seguida, debata com a turma pontos fantásticos da narrativa, como o fato de o garoto nascer falando ou crescer de repente. Explique que a história de Kirukú, assim como as narrativas lidas, fazem parte de outra cultura, diferente da nossa, mas que tem grande influência no Brasil. Fale sobre a vinda dos negros como escravos e sua decorrente influência cultural, como na música e na capoeira. Ressalte também palavras de origem africana na língua portuguesa   Destaque para a sala, ainda, as diferenças entre os contos lidos e os clássicos, com os quais devem estar acostumados. 

Avaliação 
Analise as impressões dos alunos sobre os textos lidos e o filme. Avalie em que aspectos a aula permitiu ampliar o universo cultural deles.

Professor Cláudio Bazzoni
assessor da prefeitura de São Paulo


Kirikú e a Feiticeira é um filme baseado nas lendas da África Ocidental que conta a história de uma comunidade que vivia subjugada pelo poder de uma feiticeira. A produção visa destacar o desenho animado de forma simples, buscando agradar aos pequenos, jovens e os adultos; os quais encontram muitos ensinamentos nesta lenda. Um desenho moderno com linguagem capaz de falar com as crianças, sem contudo subestimar os adultos.
É uma história que celebra a coragem de um garoto que era diferente dos outros companheiros de sua aldeia. Um menino bem precoce, perspicaz, astucioso, e muito amigo de sua mãe, que nasce falando, ou melhor, já fala dentro da barriga da mãe! Muito esperto e ativo, logo que vem ao mundo já entende que precisa fazer algo para salvar as pessoas da vila em que vive.
O diálogo cultural africano, travado na obra Kirikú e a Feiticeira, de Michel Ocelot, pode ser interpretado numa dimensão mais ampla, no tempo e no espaço, estendendo-se até nossos dias e a todos os continentes. Nas personagens principais, podemos observar as conseqüências dos atos masculinos incutidos nas mulheres. Temos duas visões divergentes (da mãe de Kiriku e da feiticeira Karabá) que, porém, apontam para o mesmo objetivo: a afirmação feminina enquanto indivíduo livre e independente.
O filme visa descrever o papel da mulher na sociedade africana; podemos ver claramente tal ideia no momento em que a criança nasce e a mãe ordena que ele se lave sozinho, mostrando que o “Herói”, para sê-lo, precisa ser independente. A própria independência que ela adquirira, mesmo fazendo parte de uma sociedade com papéis estritamente bem definidos entre o homem e a mulher.
Considerando a visão de Michelle Perrot, em sua obra “Les femmes et les silences de l’Histoire”, observamos que a História das mulheres foi sempre contada sob o ponto de vista do homem. O que se tem de menos influenciada é a oralidade privada, domínio em que as mulheres sempre puderam interferir e o fizeram de maneira marcante junto aos filhos e às crianças em geral. “A memória das mulheres é verbo. Ela está ligada à oralidade das sociedades tradicionais que lhes confiavam à missão de narradoras da comunidade do vilarejo.” (PERROT, 1998, p. 17).
No contexto do filme podemos observar que o autor da vida e grande importância no papel da mulher em meio não só a sociedade africana, mas todas as sociedades existentes.
A cultura local é retratada sem retoques, deixando de lado o etnocentrismo, os preconceitos e as culturas ocidentais, é bom, porque traz realismo à história e veracidade aos fatos. Ao estudar tal conceito podemos compreender que é uma característica de quem só reconhece a legitimidade e validade das normas e valores vigentes na sua própria cultura ou sociedade. Tem sua origem na tendência de julgarmos as realidades culturais de outros povos a partir dos nossos padrões culturais. Pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros.
Os valores da sociedade a que pertencemos em muitos momentos são declarados como valores universalizáveis aplicados a todos os homens, ou seja, dada a sua “superioridade” tal modelo deve ser seguido por todas as outras sociedades. Adaptando está perspectiva não é de estranhar que alguns povos tendem a intitularem-se os únicos com legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana.
O conceito etnocêntrico está envolvido com a grande estranheza que se dá no encontro do grupo “eu” e o grupo do “outro” que utilizam como referências e características algo como exótico, excêntrico, anormal, exuberante e primitivo. Iniciando a formação de preconceitos, manipulações ideológicas, julgamentos precipitados e sérias distorções culturais, comportamentais e educacionais.
Mas a defesa legítima da diversidade cultura conduziu, contudo muitos antropólogos atuais a enxergarem a diversidade das culturas e das sociedades.Kirikú e a Feiticeira é um grande exemplo na nossa contemporaneidade, pois visa quebra de forma simples, mas muito bem feito, e bastante divertido os preconceitos, ou seja, o etnocentrismo e o machismo embatido nas diversas sociedades. Para quem está acostumado com nossos desenhos infantis ocidentais, pode parecer até um pouquinho estranho.
Ao trabalhar tal perspectiva devemos nos remeter á questão do misticismo, algo complexo em meio à construção da mentalidade africana. Amadou em sua obra “Amkoullel, o menino fula de Amadou Hampâté-Bâ”, trabalha com clarividência, á questão mística e religiosa, enfrentando dualidades constantes, pois recebeu como herança a religião africana da mãe e mulçumana do pai.
No filme percebemos de forma precisa o poder matriarcal, pois a mãe em meio à construção dos processos sócios culturais é considerada de extrema importância nas decisões tomadas pelos homens.
Porém para tornar possível a permanência da cultura e da memória africana, os griots contavam a história e os anciãos eram fundamentais na transferência do conhecimento, da sabedoria e dos ritos de seus ancestrais.
Amadou nos deixa claro em sua narrativa que os griots deveriam trabalhar com a verdade “absoluta”, pois eles tinham como missão transferir esse saber para a juventude africana, como objetivo de não perder a história. Trabalho que traz à tona a fusão entre memória e oralidade com relação ao poder da palavra na África. A palavra tinha o poder de levar o conhecimento e ao mesmo tempo acarretava ali o poder de amaldiçoar toda uma geração. Portanto, notamos em meio à análise que a oralidade é de extrema importância para concretização dos saberes de um povo anterior que antecederia a gerações futuras.
Assim fica claro que o trabalho da memória e da oralidade se funde como algo primordial na cultura do povo africano. Tornando vivo as representações do imaginário que envolve todo um proceder sócio cultural em relação há um procedimento historiográfico amplo, diversificado e complexo com relação à linguagem, os dialetos, os ritos, a cultura e a religiosidade que se mistura em meio há uma dialética que permanece viva na memória dos anciãos e na oralidade dos griots.
Em suma, podemos concluir que as mulheres tiveram um papel fundamental durante todo o filme e, sobretudo, no início e no final da narração, fazendo com que as ações fossem, sutilmente, propiciadas por elas. Mãe e feiticeira corroboraram para o segmento de uma e da outra, dando sentido para a trama cinematográfico. Kiriku foi um apêndice, ou seja, o laço entre as duas e foi isso que o transformou Kiriku em “Herói”. Ele sabiamente ouviu os conselhos da matriarca, absorveu as histórias contas pelos anciões e com sua astúcia “conquistou” Karabá, libertando todos os homens das garras da feiticeira.
Kirikú e a Feiticeira (Kirikou et la Sorcière. 1998). França / Bélgica / Luxemburgo. Direção e Roteiro: Michel Ocelot. Vozes/Cast. Gênero: Animação, Aventura, Família. Duração: 74 minutos.

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